Antigo terminal da Pan Am em Nova York é demolido

Ricardo Gallo

Por DANIEL LEB SASAKI*

Demolição do terminal (Anthony Stramaglia/Divulgação)

Um símbolo dos tempos em que a aviação comercial era glamourosa está vindo abaixo. A Delta Air Lines e a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, entidade que administra os aeroportos locais, decidiram aposentar o antigo Terminal 3 do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, que durante 30 anos abrigou as operações da lendária Pan Am. O complexo está sendo demolido.

A Delta, que herdou a instalação em 1991, ano em que a Pan Am saiu do mercado, resolveu investir US$ 1,2 bilhão na expansão do Terminal 4, já em funcionamento. O motivo alegado: a infraestrutura antiga já não comportava com eficiência a quantidade de voos e as reclamações dos passageiros em relação ao desconforto eram frequentes.

Quando os planos para a demolição foram apresentados, em 2010, os nostálgicos reagiram. O antigo terminal, inaugurado em 1960 e mais tarde batizado Pan Am Worldport, é considerado um ícone da arquitetura space-age por causa de seu telhado com forma de disco voador.

Além disso, foi palco do nascimento da aviação a jato para as massas. Causou indignação o fato de ser destruído para dar lugar a uma área vazia para estacionamento de aviões. Em sua defesa, a Autoridade Portuária alegou que manter a estrutura seria inviável para um aeroporto que sofre com falta de espaço, como o JFK.

Ex-funcionários e admiradores da Pan Am formaram um grupo na internet para tentar reverter a decisão. Alistaram até mesmo a filha de um dos arquitetos do terminal.

Durante meses, entupiram os canais de comunicação da Delta e da Autoridade Portuária com mensagens de conteúdo preservacionista, e fizeram uma verdadeira cruzada junto a jornais e TVs locais. Também colheram depoimentos de personalidades, como Frank Abagnale Jr., o falsário que se passou por piloto nos anos 1960 e inspirou o filme “Prenda-me se for capaz” (2002), e o artista Milton Hebald, que projetou para a entrada do terminal uma escultura considerada, à época, a maior do mundo.

Terminal prestes a ser demolido (Anthony Stramaglia/Divulgação)

Tiveram pequenas vitórias. Por exemplo, em junho, o National Trust for Historic Preservation, entidade de relevância que defende a preservação de locais históricos, selecionou o terminal como um dos 11 Lugares Históricos Mais Ameaçados dos Estados Unidos, chamando a atenção dos norte-americanos para o assunto e propondo ações de salvamento.

Mas não foi o suficiente: os portões de embarque foram definitivamente fechados e em questão de dias os tratores entraram em cena.

Diante da crescente repercussão negativa, a Delta e a Autoridade Portuária dispararam um press release, afirmando que reconheciam a importância histórica do edifício. Comprometeram-se a criar uma homenagem ao Worldport no próprio aeroporto, incorporando artefatos, maquetes e fotografias. Mais um exemplo do poder das redes sociais.

O Worldport da Pan Am em 1961 (Jan Proctor/Wikimedia Commons)

Hoje, o cenário é de destruição. Em questão de meses, assim como a própria Pan Am, o Terminal 3 será só uma lembrança.

Daniel Leb Sasaki, jornalista, é autor do livro “Pouso forçado: a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar”