Meridiana vira Air Italy com a missão de desbancar a Alitalia

Guilherme Magalhães

Os italianos foram apresentados a uma nova companhia aérea nesta segunda-feira (19), a Air Italy, que já nasce com a missão de desbancar a líder Alitalia, mergulhada em dívidas.

A Air Italy é a nova face da Meridiana, empresa que no ano passado teve 49% de suas ações adquiridas pela Qatar Airways, a mão —e o bolso— por trás do reposicionamento da marca.

Nos últimos anos, o mercado italiano se transformou em uma espécie de “proxy war” (guerra por procuração) de duas gigantes do Golfo, a Qatar e a Etihad, dos Emirados Árabes.

Em agosto de 2014, a companhia de Abu Dhabi comprou 49% das ações da Alitalia, no que parecia uma promessa de estabilidade para a maior aérea italiana após anos conturbados que incluíram uma falência em 2008.

A Qatar reagiu no ano passado ao investir na Meridiana, a segunda companhia da Itália em número de passageiros transportados —foram 2,6 milhões em 2016.

A história da Meridiana remonta a 1963, quando usava o nome Alisarda. Ganhou o atual nome em 1991 e absorveu a pequena Air Italy (fundada em 2005) como subsidiária em 2011.

Do seu hub no aeroporto de Milão-Malpensa, a Meridiana já vinha ameaçando a Alitalia com uma malha em expansão. Em 2015, assumiu o voo da Air Italy para o Brasil: a rota Milão – Fortaleza, que na saída da capital cearense fazia escala em Natal —hoje a parada é no Recife.

Boeing 767-300ER usado pela Meridiana na rota Milão - Fortaleza (Foto: Wikimedia Commons)
Boeing 767-300ER usado pela Meridiana na rota Milão – Fortaleza (Foto: Wikimedia Commons)

Em maio do ano passado, a Etihad anunciou que não mais investiria na Alitalia, o que levou a italiana a entrar com pedido de falência pela segunda vez em dez anos.

A empresa mantém as operações graças a um empréstimo de 300 milhões de euros do governo italiano e aguarda a definição sobre um possível comprador.

A low-cost britânica easyJet demonstrou interesse pelas rotas de curta distância da Alitalia, enquanto a alemã Lufthansa, outra interessada, fala em total reestruturação da companhia. O grupo Air France-KLM desmentiu os boatos de que poderiam fazer uma oferta, e a irlandesa Ryanair parece ter desistido do negócio.

Enquanto a Alitalia agoniza, e a Etihad tenta refazer seu portfólio de investimentos —prejudicado também pela falência da alemã Air Berlin, outra empresa de má saúde financeira que a Etihad tentou resgatar—, a Qatar age para reposicionar a Meridiana, renovando marca, frota e malha.

Repare que a nova pintura da Air Italy —apresentada em um Boeing 737 MAX 8 na foto que abre este texto— traz o tradicional tom de marrom-avermelhado presente na bandeira qatari e na fuselagem dos aviões da Qatar.

“Queremos nos tornar a companhia número 1 da Itália”, disse o CEO da Qatar, Akbar Al Baker, no evento de lançamento da Air Italy. “E nós temos os recursos para atingir essa meta.”

A frota, por exemplo, vai aumentar. Hoje a Meridiana opera 11 aviões: um Boeing 737-700, oito 737-800 e três 767-300.

A Qatar vai emprestar cinco Airbus A330 até maio de 2019, quando serão substituídos por 787 Dreamliners. As primeiras rotas de longa distância da nova empresa, Nova York-JFK e Miami, começam a operar em junho.

Além disso, 20 737 MAXs devem ser entregues nos primeiros três anos de operações —o primeiro deles chega em abril.

O plano é voar para mais de 50 destinos e transportar 10 milhões de passageiros em 2022.