Com Avianca em crise, cliente Amigo deve correr para usar milhas

Em meio a uma recuperação judicial, a Avianca atravessa um momento delicado, com perda de aeronaves para credores e sucessivos cancelamentos de voos.

Nesta quarta-feira (17), a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) anunciou que a companhia deverá entregar mais oito aviões a partir da próxima segunda-feira (22) —a entrega foi combinada para ocorrer após o feriado de Páscoa com vistas a mitigar o impacto na já combalida malha aérea da Avianca.

Em assembleia no último dia 5, os credores aprovaram o fatiamento da empresa em sete partes, chamadas unidades produtivas isoladas (UPI), que serão leiloadas no dia 7 de maio. Seis delas são compostas por slots nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, e no Santos Dumont, no Rio.

Um slot é uma permissão de pouso e decolagem no aeroporto em questão, e no momento, é o ativo mais valioso da companhia. O problema é que a comercialização desses slots é proibida pela Anac. Portanto, há chance de esse plano de recuperação, aprovado pelos credores, ser barrado na Justiça.

A sétima UPI é formada pelo programa de fidelidade da Avianca, o Amigo. É importante lembrar que a Avianca Brasil é uma empresa distinta da Avianca “original”, colombiana, e ambas possuem programas de milhagem totalmente independentes —no caso da colombiana, o LifeMiles.

Nesse cenário nebuloso, aumenta a preocupação dos clientes com o futuro dos seus pontos no programa, as milhas acumuladas com voos ou transferidas do cartão de crédito.

Com grande parte da malha aérea da Avianca afetada pelos cancelamentos e a crescente incerteza sobre o futuro da companhia, o melhor negócio para os clientes do Amigo neste momento é usar os pontos no resgate de passagens das companhias da Star Alliance, aliança global da qual a Avianca faz parte. Essas alianças permitem o compartilhamento de voos e a pontuação em programas de fidelidade das companhias parceiras.

Mas é preciso atenção. O especialista em programas de fidelidade Alexandre Zylberstajn, sócio-diretor do site Passageiro de Primeira, recomenda que a emissão do bilhete seja feita unicamente na empresa parceira.

“Digamos que você vai fazer um voo do Rio de Janeiro para Frankfurt, e o sistema te dê a opção de fazer Rio-São Paulo com a Avianca, e depois Guarulhos-Frankfurt com a Lufthansa. Como a gente não sabe até que momento a Avianca vai operar esses voos, tente emitir o voo ‘puro’ da parceira, para ter um pouco mais de garantia”, avalia Zylberstajn.

Fazem parte da Star Alliance 27 companhias: Adria (Eslovênia), Aegean (Grécia), Air Canada, Air China, Air India, Air New Zealand, All Nippon Airways (Japão), Asiana Airlines (Coreia do Sul), Austrian, Avianca (Colômbia e Brasil), Brussels (Bélgica), Copa Airlines (Panamá), Croatia Airlines, Egyptair, Ethiopian, EVA Air (Taiwan), LOT (Polônia), Lufthansa (Alemanha), SAS (Noruega, Dinamarca e Suécia), Shenzhen Airlines (China), Singapore, South African Airways, Swiss, TAP Air Portugal, Thai, Turkish e United (EUA).

Nem todas, porém, têm operação no Brasil. Air Canada, Air China, Avianca, Copa, Ethiopian, Lufthansa, South African, Swiss, TAP, Turkish e United operam rotas no Brasil, logo, possuem representação por aqui.

No caso das outras, a emissão de passagens com os pontos Amigo ainda é possível, mas eventuais problemas podem incorrer em dor de cabeça.

“Se tiver algum problema, para discutir com elas não vai valer a pena, porque você não conseguiria fazer isso no território brasileiro. Para cobrar elas lá fora, vai ser muito difícil”, afirma o advogado Ricardo Sordi, especialista em direito do consumidor e sócio do escritório Brasil Salomão e Matthes.

Aqueles que não possuem pontos suficientes para emitir uma passagem internacional, podem arriscar e resgatar um trecho com a Avianca em voos no Brasil.

Uma opção menos arriscada seriam os voos da ponte aérea, entre Congonhas e Santos Dumont. “São os últimos voos que a Avianca cancelaria, por conta dos slots. Se chegar numa situação limite, os últimos que vão morrer são esses”, afirma Zylberstajn.

Cancelamentos ou mesmo atrasos nessa rota prejudicam a posse dos slots nesses aeroportos de acordo com as regras da Anac, e são eles o principal ativo nas mãos da Avianca neste momento.

Se ainda assim o voo emitido com milhas for cancelado, há outra dica. Alguns cartões de crédito, dependendo da bandeira, oferecem seguro contra cancelamento de voos —nesse caso, é preciso ter usado o cartão para pagar as taxas de embarque do bilhete emitido com as milhas.

A incerteza que ronda o futuro da Avianca se estende, com isso, ao seu programa de milhagem. Existe a chance de, quando ocorrer o leilão das unidades produtivas isoladas, ninguém se interessar pela fatia representada pelo Amigo.

Seria um caso extremo, mas que ecoa outro episódio recente no mercado da aviação.

Em 2017, a companhia alemã Air Berlin decretou falência. Enquanto a empresa agonizava, clientes do Top Bonus foram gradativamente perdendo alternativas para usar as milhas acumuladas, até que o programa acabou e os passageiros simplesmente perderam os pontos.

“Ainda acredito que um programa brasileiro tenha interesse no ativo, mas as chances cada vez mais estão ficando menores”, avalia Zylberstajn.