Passageiro vê sol nascer duas vezes em novo voo ultralongo da Qantas

Pela segunda vez em um mês, a Qantas realizou um voo ultralongo com destino a Sydney, parte dos testes que a companhia australiana está fazendo para verificar a viabilidade econômica e o impacto sobre os passageiros após quase 20 horas dentro de um avião.

Depois de Nova York, foi a vez de Londres, na última quinta-feira (14), assistir à decolagem de um Boeing 787 em condições especiais: poucos ocupantes (cerca de 50 em uma aeronave com capacidade para 236 passageiros), cardápio balanceado e rotina de exercícios para amenizar o jet lag.

Desta vez, com um bônus especial: os passageiros a bordo puderam ver o sol nascer duas vezes. A primeira logo após a partida, ainda sobre o Reino Unido, e a segunda ao cruzar a linha do Equador enquanto sobrevoavam a Indonésia.

Apesar da maior distância —17,8 mil quilômetros em relação aos 16,2 mil entre Nova York e Sydney—, a previsão de duração deste segundo voo era menor devido aos ventos favoráveis que os aviões provenientes da Europa encontram sobre a Ásia. Ao voar dos Estados Unidos para a Austrália, as aeronaves precisam cruzar o Pacífico.

Mudanças nas condições meteorológicas, no entanto, tornaram os ventos nem tão favoráveis assim, o que ajudou a tornar este voo três minutos mais longo do que o primeiro: foram 19 horas e 19 minutos, ante 19 horas e 16 minutos do voo de outubro.

Ainda assim, segundo a Qantas, foram economizadas duas horas em relação ao voo tradicional dessa rota, que faz uma escala para reabastecimento em Singapura —país que, aliás, é “lar” do voo comercial mais longo do mundo atualmente, o de 18h45min da Singapore Airlines para Newark, na região de Nova York.

Passageiros do voo Londres-Sydney fazem alongamentos para amenizar jet lag (Foto: Divulgação/Qantas)
Passageiros do voo Londres-Sydney fazem alongamentos para amenizar jet lag (Foto: Divulgação/Qantas)

Novamente, a disciplina dos passageiros foi posta à prova, com horários específicos para dormir, comer e se exercitar. Tudo isso para, desde o início do voo, começar a aclimatar o relógio biológico dos ocupantes ao horário de Sydney, que está 11 horas a frente de Londres.

Quando o voo partiu da capital britânica, às 6h, já eram 17h na cidade australiana. Ou seja, a primeira refeição a bordo, servida em um horário de café da manhã considerando o local de partida, foi um caldo de frango com macarrão acompanhado de um sanduíche de bife.

Da mesma forma, quando o voo já contava 14 horas, foi servido café da manhã, pois em Sydney eram 7h, ainda que o corpo dos passageiros esperasse por um jantar tendo em vista o horário londrino (20h).

Entre as refeições, rotinas de alongamentos para todos e testes mais detalhados em seis dos passageiros, que tiveram todas as ações monitoradas, desde o que comeu e assistiu no serviço de entretenimento até quantas vezes se levantou da poltrona, batimentos cardíacos e pressão sanguínea.

O presidente-executivo da Qantas, Alan Joyce, que participou dos dois voos até agora, promete assentos mais largos na classe econômica caso os voos diretos sejam implementados em escala comercial.

Para isso ocorrer, no entanto, a Qantas precisa de um avião capaz de decolar com o combustível necessário, mais uma ocupação completa de passageiros e de carga.

A Boeing e a Airbus apresentaram suas propostas —respectivamente, a nova geração do 777 e um A350-1000 de longo alcance—, e a companhia deve anunciar sua escolha até dezembro deste ano, para lançar os voos comerciais até 2022.

Vale lembrar que este não foi o primeiro voo sem escalas entre Londres e Sydney. Há 30 anos, a mesma Qantas realizou esse feito com um Boeing 747-400. Naquela época, porém, tratava-se apenas de um voo de entrega do avião, e não de um teste com passageiros (ainda que reduzidos) para se planejar um eventual voo comercial.

Em 1989, o voo foi mais longo —20 horas e 9 minutos— porque a rota não foi a mais próxima possível. O avião teve de evitar sobrevoar a União Soviética e a China, algo que a aeronave em 2019 não precisou fazer, pois hoje os governos russo e chinês têm políticas mais amigáveis de espaço aéreo.