Aposta da Boeing para a próxima década, 777X voa pela primeira vez
Voou pela primeira vez neste sábado (25) um avião que será crucial para a Boeing na próxima década. O 777X, nova geração do “Triple Seven”, realizou seu primeiro voo de testes com sete meses de atraso, em meio à pior crise da história da fabricante americana, que suspendeu a produção do popular 737 Max.
Visto como um sucessor do gigante 747, o 777X foi concebido como uma versão ampliada, mais moderna e eficiente do “Triple Seven”, o avião de fuselagem larga (dois corredores) mais vendido do mundo, com mais de 1.600 unidades entregues desde 1995.
Depois de uma primeira tentativa cancelada na sexta-feira (24) devido às más condições meteorológicas, o primeiro protótipo do 777X decolou da fábrica da Boeing em Everett, nos Estados Unidos, por volta das 15h10 (horário de Brasília) deste sábado. A previsão é de que o voo dure aproximadamente quatro horas.
O 777 original representou um marco para a fabricante americana, e a nova geração do jato é a aposta da empresa para companhias que hoje usam o 747 e já começaram a aposentá-lo. Os quatro motores do Jumbo, como o 747 é conhecido, consomem muito combustível —apesar de a versão introduzida em 2012 ter amenizado o problema.
O projeto do 777X também é visto pela Boeing como uma forma de superar a tormenta envolvendo o 737 Max, aeronave de menor porte (corredor único) que está proibida de voar há quase um ano após dois acidentes que mataram 346 pessoas.
As revelações de negligência da Boeing durante o processo de certificação do 737 Max geraram críticas generalizadas e levaram à saída do presidente-executivo da empresa, Dennis Muilenburg.
Não que o desenvolvimento do 777X esteja sendo tranquilo.
A nova geração foi anunciada pela Boeing em novembro de 2013. O primeiro voo estava previsto para 26 de junho de 2019, mas problemas nos motores forçaram a Boeing a adiar o teste enquanto trabalhava em uma solução com a fabricante do componente, a General Electric.
Os motores, batizados GE9X, são peça fundamental das inovações do novo avião. São os maiores motores turbofan já instalados em um avião, com uma largura equivalente à da fuselagem de um 737. Isso possibilitará, segundo a Boeing, uma economia de expressivos 10% em consumo de combustível, a principal demanda das companhias aéreas.
As asas dobráveis são outra inovação visível e um passo à frente das já ultramodernas asas do 787 Dreamliner. A maior superfície auxilia na economia de combustível, enquanto o mecanismo de dobra permitirá que o 777X opere nos mesmos aeroportos habilitados para o atual 777.
Um novo obstáculo, porém, surgiu em setembro do ano passado, quando foi informado que uma porta havia explodido durante um teste de estresse estrutural na presença de inspetores da FAA (autoridade de aviação dos EUA).
O incidente ganhou contornos mais graves quando o jornal Seattle Times revelou, em novembro, que a falha seria ainda pior: uma parte da fuselagem teria se rompido durante o teste em questão, que expõe o corpo principal da aeronave a um nível de força extremo, muito acima das condições normais de uso, para testar a resistência da estrutura.
“Nos testes de carga final do avião de teste estático 777X, nossa equipe realizou um procedimento que envolve dobrar as asas do avião até um nível muito além do esperado em serviços comerciais. Um problema ocorreu durante os minutos finais, quando a carga estava em aproximadamente 99%, e envolveu uma despressurização da fuselagem traseira. A equipe seguiu todos os protocolos de segurança”, afirmou a Boeing, em nota.
Outra má notícia veio em dezembro, quando a companhia australiana Qantas anunciou sua opção pelo Airbus A350, rival direto do 777X, para seu projeto de voos ultralongos a partir de Sydney. A Boeing estava no páreo com uma versão de alcance estendido do futuro 777-8.
Com o primeiro voo de testes enfim realizado, começa uma nova etapa na jornada de certificação do 777X, que deve passar por um escrutínio ainda mais rigoroso diante dos problemas revelados no processo do 737 Max. A Boeing trabalha com a data de 2021 para a entrega da primeira unidade à Lufthansa, companhia de estreia do 777X.