Pandemia transforma treinamentos de pilotos, que ficam mais virtuais

A pandemia do novo coronavírus derrubou em 80% o número de voos no planeta, segundo estimativa do início deste mês feita pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo).

O relatório mais recente da entidade prevê queda de US$ 314 bilhões (R$ 1,7 trilhão) nas receitas de passageiros das companhias aéreas em todo o mundo, uma redução de 55% em relação a 2019.

Com aviões em solo e pilotos em casa de quarentena, a crise afeta a rotina de treinamentos desses profissionais da aviação, que passam por cursos teóricos e práticos anualmente a fim de revalidar suas habilitações.

A habilitação que permite a um piloto de avião voar determinado tipo de aeronave é válida por um ano.

Seguindo medidas adotadas pelos reguladores americanos e europeus, no Brasil a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prorrogou por 120 dias a validade de habilitações, certificados e autorizações com vencimento entre fevereiro e junho deste ano.

Em condições normais, próximo à data de vencimento os pilotos passam por uma extensa jornada de recapitulações que costumam ocupar quatro dias e envolvem tanto aulas teóricas como situações práticas.

Administrar a primeira parte em tempos de coronavírus, em tese, não seria tão complicado.

Companhias como a Latam já caminhavam para transformar esses cursos teóricos em aulas disponíveis em uma plataforma de ensino a distância. A pandemia acelerou esse processo.

A maior parte desse treinamento, cerca de um dia e meio, é ocupada por revisões de diferentes sistemas do avião. Dependendo do ano, o foco recai sobre alguns sistemas em particular, de modo que após quatro revisões anuais o piloto tenha revisto a totalidade de funções.

Outro importante treinamento teórico que agora deve ser adaptado para uma versão a distância é o de cargas perigosas, como equipamentos eletrônicos com baterias de lítio, material de exames clínicos e substâncias químicas.

Os pilotos reveem o que fazer em uma emergência, seja ela relacionada ou não com a carga. Além disso, são revisados os procedimentos da burocracia de voo quando uma carga perigosa está a bordo do avião.

Os outros dois dias de treinamentos costumam ser direcionados para revisão de regulamentos aeronáuticos e tópicos de meteorologia, emergências gerais e uma avaliação da performance de cada piloto nos últimos 12 meses.

Já a parte do treinamento que envolve os simuladores foi mais comprometida pela pandemia. É no simulador que os pilotos treinam situações de voo, como decolagens, pousos e eventuais panes. As companhias reservam para seus pilotos vagas nesses simuladores, que costumam ser concorridos.

Em decorrências das medidas de distanciamento social para frear o contágio do novo coronavírus, esses locais foram temporariamente fechados.

A Latam afirmou que “os cursos e revalidações que necessariamente são presenciais —como aulas em simuladores para os pilotos e cursos em que é necessário o treinamento prático com equipamentos— estão temporariamente suspensos e devem ser retomados a partir de julho, sempre em conformidade com as determinações e orientações da Anac e autoridades de saúde”.

Segundo a companhia, a maioria de seus treinamentos para tripulantes já estava disponível em plataforma digital, “em que pilotos e comissários acessam o conteúdo das aulas e são acompanhados por um instrutor online em um chat”.

Cursos que não estavam na plataforma e podem ser realizados de forma remota já estão sendo ministrados por meio de videoconferência após autorização dos reguladores.

A Gol informou que seus treinamentos em simuladores “foram suspensos em março, com a readequação necessária pelo impacto do coronavírus”. A empresa diz que está se reorganizando “com a expectativa de retomada até o fim de maio”.

A Azul disse que “logo após o início da quarentena no estado de São Paulo, a companhia suspendeu todos os treinamentos presenciais dos pilotos e criou cursos na modalidade EAD, com o objetivo de manter os profissionais proficientes e atualizados dentro dos procedimentos da Azul”.

O retorno dos treinamentos presenciais dependerá de novas recomendações sanitárias, informou a empresa.

 

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Esta “temporada” do Senhores Passageiros se encerra com este texto. Agradeço aos leitores que, nestes dois anos e meio desde a retomada do blog, me honraram com sua audiência.